trindade

" A   verdade    nua    e   escancarada "

Textos

EU DEIXEI AS CHAVES NA ESTANTE

   Ontem, nem percebi: Saí apressado, uma pressa sem muita noção
sem muitas justificativas, mas saí...fui andando, mudando as marchas
do carro, ouvindo a radio é " 1 " e me distraindo nas paisagens  da
janela do  carro. Eu paro, eu sigo, eu desvio e vou em frente, meu
irmão me manda mensagem que " está á caminho", minha Mãe  faz
café e se alegra quando eu tomo, ela vem, manda mensagem e está
sempre querendo saber de mim, se eu " vou ou não vou" ???? Eu já
disse que ser PAI é uma tarefa estranha, nunca fui e nem sei como
sería...
   Na minha pressa, só percebi que meus cabelos mudaram de cor, o
meu rosto " engordou" e minha barriga de " tanquinho" está muito
mais parecida com a barriga do Jim Morrison, quando ele já havia se
mudado pra França...
   Ela se irrita, entra em conflitos, me deixa triste...., eu me esqueço
não sei onde estão as " coisas" e ando  distraído por aí..., espaço e
tempo, céu e inferno, finito e eterno, e o " banco Nacional" ???  Eu
já trabalhei nele nos tempos de " Ayrton Senna", quando muitos dos
" bons da bola" que conheço hoje, eram apenas completos boçais, o
tempo pode ter dado alguma coisa á eles, mas jamais saberão o que
é ter o que eu já tive...
   Ela espera, o relógio da praça marca hora, os velhos contam  seus
" causos" e as crianças esperam o dia do aniversário pra ganhar  os
presentes...e meus dentes??? Se quebram toda noite, " bruxismo" que
vem do meu estresse, estresse que vem dos meus cabelos brancos....
e a vida que o pastor promete ser " eterna"...
   Eu imagino ela de " calcinha", ela me imagina de " terno e gravata"
esperando ela no altar, eu planejo ir á Nova York e ela gostaría  de
dar de mamá..., minha Mãe quer ir á feira, encontrar aquela mulher
da barraca de flores, que prometeu á ela, uma plantinha especial...o
dia passa, eu adoraría que o tempo ficasse " estático", que as cores
dos meus cabelos não mudassem, e que todas as moléculas que no
meu corpo residem, pudessem ficar " quietinhas", imóveis, paradas
no tempo, me deixando como eu era nos dias de " Memphis" onde eu
dirigia um Cadillac branco e ouvia Raul & Elvis...
   Eu encontro um toco, uma gaivota, um ovo de louça azul, ouço a
voz de quem canta no rádio e me dá uma vontade de tirar os sapatos
eu chuto a pedra, e relembro João, se não temos mais " Renato", tem
o " filho" que também pode cantar..., eu peço o café e compro mais
uma vez o cigarro que eu jurei nunca mais comprar, eu vou pra casa
e escondo as fronhas decoradas com sangue que meu pulmãozinho
adora colorir...
   Eu conto os dias, preparo as despedidas, e sinto por deixar  minha
Mãe ..., eu não conheço minha filha, gostaría tanto de poder pegá-la
no colo, colocá-la nos ombros e sair declamando coisas que aprendi
num livro de um alemão que pensou tanto, tanto e disse que só era
possível entende-lo depois de 100 anos...
   Eu esqueço de tudo...esqueço dos meios, fico repartido em tantas
casas, meus caminhos diretos são os meios..., eu não moro em lugar
nenhum, eu ainda sou " eu ", apesar de nem mesmo me reconhecer
mas o joão está na esquina, as pedras no caminho, o toco que dá
pra sentar, eu esqueço de tudo, mas não te esqueço, eu podería até
me lembrar das chaves que um dia esqueci na estante, e que hoje
poderiam abrir a porta do meu coração...
trindade
Enviado por trindade em 01/10/2011


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